segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O BARCO E O RIO

(por Silvana Garcia)

Um texto dramático, quando o escolhemos para a cena, torna-se um interlocutor, com o qual temos que estabelecer um diálogo fecundo.

O texto é como um rio que, antes de nos aventurarmos a navegá-lo, devemos conhecer profundamente. Mergulhar nele, vasculhar o fundo, conhecer suas correntes, explorar suas margens e o entorno. suas águas, assim, deixarão de ser ameaçadoras. Com a segurança de quem sabe o rio, podemos, então, construir a nave - a cena - mais adequada para nossa aventura.

Nossa nave pode ser de vários e distintos tipos - uma simples jangada ou uma lancha veloz, de madeira ou ferro, simples ou sofisticada. Mas deve ter como principal qualidade a capacidade de flutuar naquele rio, não apenas deslizando sobre as águas, mas também resistindo à correnteza quando necessário, podendo atracar nas margens quando necessário.

Se dominarmos e conhecermos um texto, podemos cortá-lo, fragmentá-lo - até mesmo negá-lo, por que não? - reconstrui-lo para constituir novos sentidos. Se executarmos esse corpo-a-corpo com o texto, a cena emergirá dele vigorosa, prenhe de significados.